O grande objetivo do pecuarista é obter um produto final com rentabilidade, de modo sustentável, e que lhe permita não só a permanência no negócio, mas também o seu crescimento.
Esse produto final vai depender de sua atividade, que pode ser o bezerro, o animal magro, a carne no abatedouro ou o leite no laticínio, mas de forma geral seu foco é voltado ao animal, sua genética, a taxa de prenhez, ganhos de peso diário, sanidade e muitos outros.
Quando se pensa nos sistemas de manejo das pastagens, o papel do pecuarista precisa sofrer uma mudança, e aqui faço o convite para que passe a se chamar “forragicultor”, o produtor de forragem.
Nesse aspecto, o forragicultor quer ser o mais produtivo e eficiente possível na produção de capim, e sua produção tem que ser colhida de modo também eficiente, no ponto ideal e com menos perdas possíveis. Só um detalhe: essa “colhedeira” se chama “animal”, o bovino nesse caso.
Feitas essas considerações, quando se comparam os sistemas de pastejo, rotacionado ou contínuo, em ambos os casos o objetivo é que o capim produzido seja o mais eficientemente pastejado pelos animais, e convertido no produto final, como mencionado: o bezerro, a carne ou o leite, e que sejam proporcionadas condições para que a planta forrageira se recupere após o pastejo.
Sistema contínuo de pastejo
No pastejo contínuo, os animais se distribuem na pastagem com pouca ou nenhuma divisão, por tempo indeterminado. O pastejo é seletivo, os animais buscam sempre a melhor forragem disponível, e não havendo tempo de descanso para rebrota, o ajuste da carga animal à disponibilidade de forragem é fundamental.
Nesse ambiente, é fácil encontrar áreas sub ou superpastejadas por diversos fatores, um deles relativos à fertilidade do solo. Sendo o solo fértil, a rebrota se dá mais rapidamente e há a tendência de os animais voltarem a pastejar touceiras rebrotadas com maior frequência, surgindo áreas rapadas e outras com sobra de pasto.
No caso de solos pobres, o ajuste da carga animal é ainda mais fundamental. Por produzir menos, esses pastos estão mais sujeitos à degradação quando mal manejados. Tratando-se de solos com boa fertilidade, há relatos de sucesso nesse sistema quando respeitado o ajuste de carga e o manejo da área como um todo, permitindo o rebrote adequado das touceiras e a demanda dos animais.
Forrageiras em ambientes temperados ou plantas de inverno se adequam bem a esse sistema. Inegavelmente, é um método mais simples para quem maneja a área, pois as movimentações de gado são bastante raras, e se bem administradas, têm potencial de apresentar ganhos interessantes.
Sistema rotacionado de pastejo
No sistema rotacionado, os animais coletam o capim a nível de piquete, e para que o pastejo seja uniforme, necessita-se colocar alta pressão de carga animal, que leva a uma relativa menor disponibilidade de forragem por animal, com isso, os animais se tornam menos seletivos e a uniformidade de pastejo desejada é alcançada.
A essência do conceito de pastejo rotacionado reside na maior produção de matéria seca e no bom uso de todo o seu potencial produtivo. Havendo períodos de descanso entre uma entrada e outra do rebanho, é otimizada a completa recuperação das touceiras após o pastejo.
O ganho individual diário (g/animal/dia) não é necessariamente muito alto, sendo compensado por uma maior taxa de lotação, atingindo significativos ganhos por área (kg/ha/dia).
O tempo adequado entre as entradas dos animais para pastejo está relacionado, necessariamente, à espécie forrageira, seu hábito de crescimento e a arquitetura foliar, contudo, a velocidade de recuperação está intimamente ligada à fertilidade do solo e a fatores ambientais como temperatura, umidade e radiação solar. Assim, não se pode estabelecer um número fixo de dias de descanso para os pastos sendo esses fatores variáveis.
Atualmente, o melhor método para determinar a nova entrada de animais para pastejo está relacionado à interceptação luminosa (IL) da pastagem, mais precisamente a 95% de IL atinge-se o ponto ótimo para colheita do pasto.
A grosso modo, 100% de IL é quando as plantas atingem a senescência, aos 95% de IL é possível se obter um maior número de ciclos de pastejo com boa produção de matéria seca, forragem de maior qualidade bromatológica (maior quantidade de folhas e menor de hastes e material morto) com consequente maximização no desempenho animal.
Esse conceito em manejo do pastejo, apesar de ser baseado em pesquisas com altos níveis de tecnologia, chega aos pecuaristas de forma prática a ser realizada, pois a IL de cada espécie forrageira é correlacionada a uma altura fixa padrão do dossel forrageiro, permitindo assim seu uso de forma racional e com grandes benefícios ao sistema de produção.
Se por um lado é demandado um esforço maior na movimentação dos animais aos sucessivos pastos, são facilitados o ajuste da carga animal e a identificação de períodos de pastejo e descanso.
A divisão dos piquetes normalmente se dá por cercas elétricas, o que possibilita a definição de tamanhos variáveis de áreas, em função da disponibilidade de forragem e ajuste de carga animal, tornando o sistema bastante flexível e maximizando o potencial produtivo das forrageiras.
Sob condições ambientais favoráveis, os períodos de descanso podem ser reduzidos e as áreas podem ser destinadas à conservação da forragem para uso em períodos de menor disponibilidade, normalmente no período da seca, por meio de fenação, silagem ou diferimento.
Há que se considerar que toda essa maior produção não vem simplesmente dos recursos naturais ou do bom manejo das áreas, a complementação com fertilizantes deve estar rigorosamente associada à maior demanda das plantas.
A análise de solo deve orientar nas correções com calcáreo, e, eventualmente, gesso, nos níveis de adubação básica de fósforo e nas suplementações em nitrogênio e potássio. Nessas adubações de reposição, a ureia é normalmente o fertilizante mais usado, em muitos casos, aplicada após cada saída dos animais.
E as plantas daninhas?
Considere-se o sistema contínuo ou o rotacionado, estamos falando de pastagens produtivas, e isso implica necessariamente em pastagens livres de plantas daninhas.
No sistema rotacionado, por sua característica de uso intensivo e constante presença de funcionários circulando pelas áreas, é de se imaginar que as atenções fiquem claras quando do aparecimento de daninhas e se passe a combatê-las. Também a constante mudança de cercas elétricas é inviabilizada pela presença de plantas daninhas, principalmente as de maior porte, arbustivas e arbóreas.
No sistema de pastejo contínuo, em que reside um maior potencial de aparecimento de plantas daninhas, existe, por consequência, um maior cuidado no seu combate. Como dito anteriormente, ocorrem mais facilmente nesse sistema áreas sub e superpastejadas, que estarão diretamente relacionadas à possibilidade de ocorrência de infestações.
Nas áreas superpastejadas, o solo fica descoberto, e a exposição do solo permite a germinação de plantas indesejáveis, principalmente herbáceas, anuais, bianuais e perenes, como as guanxumas (Sida sp), erva-quente (Croton glandulosus), fedegoso (Senna sp), cheirosa (Hyptis suaveolens) entre outras, isso prejudica ainda mais a recuperação da forragem nessas áreas.
Onde ocorre o sub pastejo, as touceiras envaretam, principalmente tratando-se de Panicums, o material fica senescente, pouco nutritivo, e as plantas daninhas têm maiores possibilidades de se estabelecerem, aparecendo principalmente as plantas arbustivas e arbóreas, e as espécies vão variar em função do bioma geográfico em que estão localizadas. Na grande maioria dos casos, referem-se a plantas de difícil controle foliar, as chamadas pragas duras. Mas, felizmente, hoje a Tecnologia XT apresenta uma performance diferenciada no seu controle.
Comentários finais
Em resumo, os sistemas de pastejo contínuo e rotacionado têm um objetivo comum de maximizar o uso da forragem e proporcionar melhores ganhos na produtividade animal, possuem características distintas, vantagens e desvantagens em ambos os casos, mas de modo geral o sistema rotacionado está relacionado a um modelo mais intensificado e de maior demanda tecnológica e, em ambos os sistemas, o controle das plantas daninhas se faz imprescindível
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